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Íntegra do discurso da presidente do SNEL na abertura da XVI Bienal do Livro

Nossa história começou em 3 de novembro de 1983, nos salões do Copacabana Palace. Ainda não se chamava Bienal Internacional do Livro, mas I Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Com 104 stands sendo 85 expositores nacionais e 19 stands internacionais, 15 expositores tiveram que ficar de fora por falta de espaço. Segundo…

Nossa história começou em 3 de novembro de 1983, nos salões do Copacabana Palace. Ainda não se chamava Bienal Internacional do Livro, mas I Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Com 104 stands sendo 85 expositores nacionais e 19 stands internacionais, 15 expositores tiveram que ficar de fora por falta de espaço. Segundo Regina Bilac Pinto, presidente do SNEL na época, o objetivo era que o Rio voltasse a ser o centro cultural do país. Na ocasião, o saudoso editor Enio Silveira, da Civilização Brasileira, comentou que o evento seria um tiro no escuro.

Em paralelo, ocorreu o seminário “O livro na atualidade brasileira”, com a presença de diversos autores como Ferreira Gullar, Ziraldo e Ana Maria Machado. Várias editoras aproveitaram para lançar livros durante o evento como a LPM que lançou “A velhinha de Taubaté” de Luiz Fernando Veríssimo. Podia não se chamar Bienal, mas vocês concordam que já tinha cara de Bienal.

A partir daí, com uma breve passagem pelo estacionamento do Fashion Mall, a Bienal chegou ao Riocentro, cresceu, amadureceu e conquistou o Rio de Janeiro. O evento, hoje, não se limita aos 55 mil metros quadrados destes três pavilhões e alcançou o objetivo idealizado há 30 anos:  durante seus 11 dias, o Rio de Janeiro se torna a Capital Cultural do Brasil.

Entretanto, se avançamos e crescemos em muitos aspectos ao longo destes 30 anos, ainda há muito a ser conquistado. Durante o evento de 1983 foi realizado um concurso de cartazes para uma campanha contra a reprografia. Naquele momento, já se lamentava a perda que as editoras, livrarias e distribuidoras sofriam com as cópias. Este cenário pouco se alterou nesses 30 anos, ao contrário.

Agora, a ameaça se torna ainda maior por conta das facilidades que a tecnologia proporciona. Defendemos que a nova Lei dos Direitos Autorais proteja o direito do autor ser remunerado pelo seu trabalho, não permitindo a cópia integral ou de grandes trechos de um livro. Precisamos que a legislação preserve o direito do autor de não ter sua obra copiada sem remuneração, sob pena de desincentivo à produção intelectual brasileira. Da mesma forma é necessário que os provedores de internet continuem sendo obrigados a acatar  notificações extra-judiciais e retirar do ar links com conteúdo que não remunere o autor. Nossa Justiça abarrotada de ações não tem a agilidade necessária para coibir a pirataria na internet.

A alteração da Lei do Livro, incorporando o livro digital na definição de livro, também é uma questão que temos urgência em ver resolvida – a legislação precisa acompanhar a evolução tecnológica.

Um ponto em que andamos para trás nesses 30 anos foi a questão da publicação de biografias. A partir do novo Código Civil, quando passou a ser necessária a autorização prévia para a publicação de obras biográficas, autores e editores passaram a se sentir amedrontados com as possibilidades de ações milionárias de danos morais. Sabemos que a história de um país é contada pela vida das personalidades que, de alguma forma, vivenciam situações e momentos que merecem ser registrados. Hoje, com a necessidade de uma aprovação prévia do biografado ou de seus herdeiros, grandes e importantes histórias estão deixando de ser escritas, prejudicando o conhecimento da História do Brasil para as gerações futuras.

O SNEL ingressou com uma Ação de Inconstitucionalidade no STF que esperamos reverta a situação atual, possibilitando que a história do nosso país volte a ser escrita e publicada em livros para que as gerações futuras tenham acesso ao nosso passado.

Voltando aos primórdios da Bienal, já em 1983, no seu nascimento, a Bienal trazia no seu DNA o fato de ser internacional. E ao longo de sua trajetória, passamos a ter a cada edição um país homenageado. Assim, já tivemos Portugal, Espanha, França, Itália, países pan-americanos, Estados Unidos e Brasil como convidados de honra.

Em 2013, ano da Alemanha no Brasil, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro escolheu a terra de Johannes Gutenberg como convidada de honra. Faz todo o sentido, pois a invenção daquele filho de Mainz revolucionou o modo de fazer  livros. A tecnologia de impressão de Gutenberg espalhou-se rapidamente por toda a Europa e, mais tarde, pelo mundo. Para muitos, é amplamente considerado o evento mais importante do período moderno.

A Alemanha também mantém a tradição de sediar, em Frankfurt, a mais importante feira de livros do mundo, onde o Brasil terá este ano a honra de ser o país homenageado.

Não bastasse isso tudo, é o segundo país com o maior número de prêmios Nobel de Literatura. Dentre os onze premiados, citaria Thomas Mann, Hermann Hesse, Günter Grass e Herta Müller.

A Alemanha é um país muito presente no Brasil através das inúmeras iniciativas culturais do Instituto Goethe. Esperamos que esta homenagem na Bienal seja uma oportunidade para que os brasileiros conheçam melhor a literatura alemã,  não só através da sua numerosa delegação que participará de várias sessões do Café Literário e de outros espaços, como também através da bela exposição montada no stand da Alemanha.

Ao longo desses 11 dias, 153 autores brasileiros participarão das diversas atrações que esta Bienal oferece: o tradicional Café Literário, o Mulher e Ponto, os novos Placar Literário e #acampamento na Bienal, o Encontro com Autor, o Conexão Jovem. Teremos inúmeras sessões debatendo temas de interesse nacional, de forma a difundir a literatura e os autores brasileiros. Esperamos também que a vinda da maior delegação estrangeira, com 27 autores de diversos estilos literários, enriqueça a visita dos nossos leitores.

Um grande contingente de público é esperado na visitação escolar. Devemos receber 170 mil alunos das redes pública e particular. Para eles e as demais crianças, jovens e, porque não, adultos, teremos o Planeta Ziraldo, homenagem que fazemos aos 80 anos deste autor que desde a primeira Bienal faz parte da nossa história.

Inauguramos também nesta edição o Salão de Negócios, espaço para receber agentes literários e editores estrangeiros. É uma experiência que esperamos prospere nas futuras edições.

A Bienal é o exemplo de uma política pública acertada, visto ter parte do seu investimento financiado pelas Leis de Incentivo à Cultura.

Enfim, saudoso Enio, aquele tiro no escuro de 30 anos atrás, deu certo! Está tudo pronto para que, de 29 de agosto a 8 de setembro, o Rio de Janeiro se transforme na capital cultural do Brasil. Sejam bem-vindos à XVI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Obrigada!

 

 

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