
A prefeitura do Rio mostrou nesta sexta-feira (11) a marca oficial da Rio Capital Mundial do Livro em evento realizado no Real Gabinete Português de Leitura, no Centro do Rio. Como se sabe, a cidade vai receber o título da UNESCO no dia 23 abril de 2025 e fica com essa responsabilidade até o dia 23 de abril de 2026. A data não é aleatória: foi nesse dia que tanto o dramaturgo inglês William Shakespeare como o romancista espanhol Miguel de Cervantes morreram, em 1616. Shakespeare ainda nasceu também na mesma data, em 1564.
“O Rio é o livro sem ponto final. Aqui, histórias se realizam e realidades se superam. Sonho e apoteose são assunto popular – e coisa séria. Ao longo deste ano, vamos trabalhar ainda mais pela cultura do livro e da leitura, traduzindo mais e melhores políticas públicas nas áreas de cultura e educação. Daqui a um ano, veremos que valeu muito a pena sermos Capital Mundial do Livro” declarou o prefeito Eduardo Paes, em seu discurso, no lançamento, que contou também com a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, além de parte do secretariado do município.
Na ocasião, o presidente do SNEL, Dante Cid, recebeu uma placa com o formato da nova marca em homenagem aos esforços prestados na consolidação da candidatura ao título.

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros foi um dos parceiros de primeiro momento da prefeitura nessa campanha, participando tanto da produção do dossiê que foi entregue ao comitê da UNESCO como na sugestão de projetos para compor a programação ao longo do ano. Três iniciativas do SNEL fazem parte do ano da Capital Mundial do Livro: a Academia Editorial Júnior, citada pela secretária executiva da Capital Mundial do Livro, Maria Isabel Werneck, como uma das ações âncoras de todo o ano, além do Rio International Publishers Summit e do Guia de Editoras.
A Academia Editorial Júnior é a primeira ação social do SNEL, que ensina os primeiros passos da profissão de editor para universitários que passem por uma situação de vulnerabilidade socioeconômica. O Rio International Publishers Summit é, como o nome em inglês sugere, uma cúpula em que atores de importância do setor dos livros vão se reunir para discutir o futuro do mercado. Por fim, o Guia vai fazer um mapeamento inédito das casas editoriais do país.
A Bienal do Livro do Rio, que é também um projeto do SNEL em parceria com a GL Exhibitions, é outra das ações âncora mencionadas pela subsecretária, e foi mencionada como a provável maior atração de todo o ano. “A Bienal foi um pilar importantíssimo para conseguir ganhar a honra”, comentou Maria Isabel Werneck, que fez questão de sublinhar que, embora seja nacional e represente editoras de todo o país, o SNEL fica no Rio de Janeiro, onde estão 125 das suas editoras associadas.
A expectativa para esse ano é de ser a maior Bienal de todos os tempos, superando os números já superlativos da edição de 2023, quando a Bienal comemorou 40 anos de História. Tatiana Zaccaro, diretora da GL, também recebeu uma placa em agradecimento pela ajuda na consolidação da campanha que trouxe esse título para o Rio.
As demais ações âncora são: Noite com livros, em que livrarias e outros pontos de cultura do Rio ficarão a noite inteira com programação voltada para o mundo do livro; Book Parade 2025, em que esculturas de livros serão espalhadas pela cidade; e o Rio de Livros, com o incentivo para a troca de livros em áreas de grande circulação, como o Terminal Gentileza.
“É uma honra que reverbera a cultura, um chamamento à ação, a construção de um futuro em que leitura, a escrita e a cultura sejam realidade”, prometeu a ministra da Cultura, Margareth Menezes, que quebrou o protocolo e cantou um trecho de uma música. A ministra também lembrou que o Rio é a primeira cidade de língua portuguesa a receber tal honraria.
Inclusive, a escolha do lugar do evento de lançamento da marca e do anúncio de alguns projetos aconteceu no Real Gabinete para reforçar o caráter seminal desse título para os países lusófonos. Foram exibidos, durante o evento, uma raríssima primeira edição dos Lusíadas, obra de Luís de Camões considerada um dos marcos iniciais da literatura portuguesa como a conhecemos hoje; e uma caixa com livros em língua portuguesa vindos de Portugal, mas com obras de todos os países de língua portuguesa – menos o Brasil – para circular em pontos de cultura e leitura do Rio de Janeiro e incentivar a discussão sobre cânone.

Paralelamente, a secretaria de Cultura também quer produzir uma caixa nossa, com autores brasileiros, para ser entregue na próxima cidade que receberá a honra de ser a Capital Mundial do Livro, em 2026, Rabat, capital de Marrocos. A intenção é criar uma nova tradição de diálogo entre literaturas que nem sempre se falam diretamente, além de uma conexão entre as cidades que receberam o título. “A capital do livro é o G20 da cultura, a olimpíada da cultura, e a caixa é nossa tocha”, brincou o secretário de Cultura, Lucas Padilha.
A nova marca faz a interseção de três marcos da cidade: as montanhas, em especial o Pão de Açúcar, a Apoteose, área final do Sambódromo, onde ocorre os desfiles das escolas de samba no Carnaval, e o livro aberto. Essa conexão entre a cidade e a cultura, e os livros e outras formas artísticas foi ressaltado pelo secretário de Cultura.
“O samba é livro, a dança é livro, o teatro é livro”, falou Padilha, para ressaltar como todos os outros formatos artísticos podem ser interpretados a partir do meio livro, seja de forma direta, com uma transposição, ou indireta, ao ser pensados como uma mídia entre outras mídias. Inclusive ele lembrou que no mesmo dia 23 de abril, no Brasil se comemora o Dia do Choro, por conta do aniversário de Pixinguinha.

Padilha também apresentou o slogan do ano: “O Rio de Janeiro continua lendo”, que faz uma referência à música Aquele abraço, de Gilberto Gil, que gravou um vídeo cantando o verso com essa nova versão. Em coluna recente no jornal Folha de S. Paulo, o escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras Ruy Castro explicou que a origem da frase é do também imortal da ABL, o poeta Antonio Carlos Secchin, que estava presente no evento do Real Gabinete.
O secretário Padilha prometeu ainda investimentos em projetos de leitura, como em feiras literárias até contação de história em praças públicas, passando por rodas de leitura nas arenas culturais, unindo avós e netos. Haverá também um evento com duração de 24 horas no Parque do Flamengo em homenagem ao poeta Ferreira Gullar. A reedição de livros da Biblioteca básica brasileira, projeto do antropólogo Darcy Ribeiro que elegeu os 50 livros que deveriam estar em todos os pontos de cultura do país, e a eleição de outros 50 para compor esse novo cânone. Toda a programação de eventos estará no site do RCML, que vai ao ar a partir do dia 23.