Em 1983, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros criou a Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Naquela época, ninguém imaginava que a “aventura” – que anos depois passaria a se chamar Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro – se tornaria um dos principais eventos culturais do país.
A iniciativa partiu de Regina Bilac Pinto que, dois anos antes, se tornara a primeira mulher a presidir o SNEL. Agora, quando a Bienal completa 30 anos, é Sônia Machado Jardim quem está à frente do Sindicato, no seu segundo mandato como presidente da instituição.
Em termos de porte, o começo dessa história pode ter sido modesto. Mas a importância cultural da Feira foi percebida de imediato, tanto pelo setor editorial quanto pelas autoridades e o público.
Inaugurada oficialmente pelo então Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e seu vice, Darcy Ribeiro, a Feira foi visitada por cerca de 20 mil pessoas, entre os dias 3 e 13 de novembro. Em uma área de 1.400 metros quadrados, no Copacabana Palace, contou com a participação de 86 editoras, que venderam 25 mil exemplares e movimentaram CR$ 45 milhões – atenção para a moeda da vez: Cruzeiros.
O livro digital não existia ainda nem nas histórias de ficção, mas um computador disputou a atenção do público que participou do evento. Graças ao equipamento, era possível obter informações a respeito de 30 mil títulos de livros catalogados. Uma bela novidade para a época.
A I Feira Internacional do Livro do Rio de Janeiro organizada pelo SNEL foi repleta de atrações. O lançamento (com a presença do autor) do primeiro livro de ficção do ex-presidente Jânio Quadros, “Quinze Contos”; uma homenagem a Gilberto Freyre pelo cinquentenário de “Casa Grande e Senzala”; o primeiro Concurso Nacional de Cartazes Contra o Abuso da Reprografia e o seminário “O livro no país” foram algumas delas.
As crianças não foram esquecidas e a peça “A Bela Borboleta”, de Ziraldo, foi encenada para elas. Ziraldo viria a ser presença obrigatória em todas as edições do evento que se seguiriam, sempre atraindo uma enorme legião de fãs, que só aumentou ao longo dos anos. Isso sem contar os cartazes que criou a pedido do SNEL para praticamente todas as edições.
Cerca de 50 autores lançaram livros e distribuíram milhares de autógrafos. Antonio Calado, Orígenes Lessa, Ana Maria Machado, Manuel Puig, João Ubaldo Ribeiro, Caio Fernando Abreu e Artur da Távola foram alguns deles.
Nessa primeira Feira, todas as pessoas que compraram livros receberam um checklivro no valor de 10% da compra, que poderia ser resgatado em qualquer livraria do país até maio de 1984.
O SNEL aproveitou o evento para traçar o perfil do leitor carioca. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), realizou uma pesquisa durante a Feira, cujo resultado foi divulgado em fevereiro de 1984.
Naquela época, “o” leitor carioca tinha pouco mais de 30 anos, curso universitário completo, e renda de média para alta. Em termos políticos, se considerava um liberal. Preferia livros de ficção, mas também se interessava por ciências. Era leitor assíduo de jornais e frequentador constante de livrarias.
Foi na terceira edição do evento, em 1987, que a Feira passou a se chamar Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Transferiu-se para o Riocentro, onde permanece até agora e, a cada edição, viu seus números se tornarem superlativos. Mas essa é outra história. O final, porém, continua o mesmo: um sucesso de público que movimenta o setor e o Rio de Janeiro e é atração garantida para cariocas de todo o mundo.