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‘Digital não é inimigo do impresso’, afirma o presidente do SNEL

Dante Cid participou do III Seminário Internacional Gráfico, que faz parte do Rio como Capital Mundial do Livro

O presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Dante Cid, esteve na quarta-feira (17) no III Seminário Internacional Gráfico, Por trás de cada página, um mundo de conexões, que faz parte da programação oficial da celebração da cidade do Rio como Capital Mundial do Livro. O evento foi organizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e aconteceu na Casa Firjan, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

Em sua fala, Dante Cid apresentou os últimos resultados consolidados de pesquisas como a Produção e Vendas, que averigua o que as editoras produzem e vendem, como o nome sugere. Com mais de 15 anos de existência, esse estudo é patrocinado pelo SNEL junto com a CBL, e produzido todos os anos pela Nielsen Book Data.

Entre outros temas, Dante abordou a discussão sobre a relação entre os conteúdos publicados de forma digital e em material impresso. Ele lembra que, embora o formato digital sempre apresente crescimento, esse aumento é relativamente pequeno, já que o formato ainda não tem ainda uma grande penetração. “Não é o digital que está tirando espaço do papel”, ele frisou, lembrando como, apesar de pequeno em relação ao todo do mercado editorial, a contribuição do digital já conseguiu fazer com que o mercado crescesse acima da inflação em 2024.

“O tamanho do digital sempre ficou em torno de 5% do total do mercado editorial, mas esse ano chegou a 9%, porque conseguimos incluir também alguns didáticos na conta”, explicou detalhando que o digital também já tinha ajudado a recuperar categorias específicas, como os CTPs (Científicos, Técnicos e Profissionais, os livros “universitários”), depois de uma queda acentuada. “Digital não é inimigo do impresso”. Mesmo nos país em que o digital chegou a marca de 30% do total do mercado, Dante Cid lembrou, ele não substituiu o papel. “É um sistema de coexistência.”

Ao lado de Dante estava a consultora inglesa para assuntos editoriais Emma House, do Oreham Group, que já trabalhou em organizações como a London Book Fair e o PublisHER. Ela concordou com Dante e lembrou que o setor editorial tem que pensar em diversificar seu portfólio para atender as demandas dos leitores.

Tanto Dante Cid quanto Emma House lembraram de como o papel ainda é considerado muito melhor tanto para a retenção do conteúdo lido como para manter a atenção do leitor por mais tempo. Dante lembrou do caso de 2023 do governo do estado de São Paulo, que anunciou que não compraria mais livros físicos para os alunos da rede pública, o que causou uma grande crítica de educadores e especialistas.

“É evidente que o digital tem algumas vantagens, como a facilidade do processo logístico, mas os estudos mostram que o conteúdo é fixado de forma mais eficiente quando o aluno lê no papel, principalmente nos anos de formação”, argumentou Dante. Após as críticas, o Governo de São Paulo voltou atrás da decisão.

Emma House narrou uma situação com algumas semelhanças. Após uma experiência de quase ter transformado todo o material de ensino em digital, os governos da Escandinávia resolveram optar pelo material físico, na busca por diminuir o tempo de tela dos alunos.

Mesmo que seja uma indústria que foi frontalmente afetada pela recente onipresença da tecnologia de ponta, Emma House acredita que não haveria uma indústria mais interessante para se atuar nesse momento. “Parece que a editoras sempre se viram para sobreviver”, opinou.

Ela vê alguns segmentos com fortes tendência de crescimento nos próximos ano: Graphic novels e mangá, Bíblias, principalmente nos EUA, livros infantis, livros que ela caracterizou como “bonitos” e os livros personalizados. Já os textos acadêmicos e alguns setores de não-ficção, como viagem e culinária, ela acredita que enfrentarão um declínio no curto prazo.

Dante ainda falou da experiência positiva da Bienal do Rio, que é organizada pelo SNEL em parceria com a GL Exhibitions, de trazer influencers e criadores de conteúdo para dentro da programação, como uma forma de impulsionar o livro, principalmente entre os mais jovens.

Além disso, ele também abordou, ao responder a uma pergunta, o projeto de lei sobre Inteligência Artificial que está no Congresso Nacional. “É preciso a atenção da toda sociedade para essa lei que está sendo votada. O argumento de que qualquer tipo de regulação seria uma forma de impedir a inovação é falacioso”, comentou Dante Cid. “Nós não somos contra a inovação, mas é preciso remunerar quem produziu os dados de qualidade que são utilizados para treinar as IAs. Porque se há uma indústria que pode arcar com esses custos é a das grandes empresas de tecnologia.”

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