
(Por Monica Ramalho* – Especial para o SNEL)
Em nome do presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Dante Cid, a diretora do SNEL Roberta Machado deu as boas-vindas ao público que esteve no Café Literário a fim de conferir a conversa entre autores de artigos da 6ª edição do livro “Retratos da Leitura do Brasil”, que foi distribuída gratuitamente após o painel.
“A Bienal é verdadeiramente a casa do SNEL desde a sua primeira edição, em 1983. Estar aqui nesse cenário, ouvindo as vozes desses jovens todos, que estão vindo buscar o livro, a leitura, acho que é o cenário perfeito pra receber o lançamento do livro ‘Retratos do Brasil 6’. Nós, editores, devemos usar essa pesquisa como uma bússola para criar um país com mais leitores”, conclamou Machado.
O painel trouxe para o debate na Bienal do Livro Rio, quatro dos 18 autores que produziram os textos do volume, a partir dos resultados da pesquisa, que foi coordenada pela socióloga Zoara Failla, também organizadora da edição. A obra foi publicada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), organizador da pesquisa ‘Retratos de Leitura do Brasil’ desde 2005 e mantido pela Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo SNEL.
O estudo (clique aqui e confira) revelou dados alarmantes sobre os hábitos de leitura dos brasileiros, como a perda de 7 milhões de leitores em cinco anos, e foi recebido com apreensão pelo mercado literário quando foi divulgado, em novembro de 2024.

Dados importantes escondidos
No entanto, a pesquisa descobriu dados mais profundos sobre a cadeia do livro e da leitura.
“Existem muitos dados escondidos nessa pesquisa e os autores convidados nos ajudaram a decifrá-los em 18 capítulos. São professoras e pesquisadoras que acreditam no poder transformador da leitura. Mais do que olhar para números e percentuais, a nossa missão é pensar no que fazer com eles. Temos que sair do discurso e viabilizar ações efetivas”, conclamou Failla.
A pesquisadora, ensaísta e crítica Eliana Yunes, professora universitária entre 1970 e 2018, explicou que a escrita se originou para afastar o cidadão comum das decisões de poder e que o conceito de leitura trabalhado nas escolas está diretamente atrelado à leitura que cada um faz do mundo. “Paulo Freire já dizia isso há muito tempo. Precisamos ampliar o conceito que temos de leitura”, destacou.
Os pequenos, por exemplo, deveriam se concentrar em ler, imaginar e escrever histórias. “Mesmo com essa conclusão estarrecedora – as crianças de 5 a 10 anos estão perdendo a convivência com o livro -, penso que a pesquisa pode nos indicar muitos caminhos para se trabalhar leitura e interpretação”, disse Yunes, autora do capítulo “O que temos a ler? Desafios e trajetórias na formação do leitor e a literatura”.
Já a educadora social Bel Santos Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC), defende que “toda hora tem gente nova se encantando com o livro e a leitura. E, a cada dia, a gente inaugura esse Brasil que lê e ele sai das bibliotecas comunitárias”.
Especialista no assunto, Mayer assina o capítulo “Vai para a biblioteca, que isso passa: Como as bibliotecas podem contribuir para um melhor retrato da leitura no Brasil”. Ela é otimista e faz continuamente o exercício de olhar para a metade cheia do copo. “Onde tem gente cabem histórias e livros, seja no bar ou na maternidade”, afirmou.
E por falar nisso, as mães costumam ser as principais mediadoras entre as crianças e os livros, seguidas pelas professoras. “Muita gente vive numa casa pequena e cheia de familiares. Para essas pessoas, a literatura é a chance de viver um coletivo diferente, que cria um espaço de silêncio e aprendizado”, pontuou Mayer, uma das agraciadas com o título “Incentivadores do Livro e da Leitura”, iniciativa do SNEL que premiou, na edição de estreia, 14 figuras públicas e instituições de atuam em prol do hábito de ler.
* Jornalista, fotógrafa e criadora do podcast Um Oceano Delas, sobre literatura feita por mulheres.
Fotos de André Bittencourt